segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Geral e irrestrito

Ouço, leio, penso sobre feminismo há mais de cinco anos. Talvez por puro egoísmo porque o feminismo me ajudou muito a segurar várias ondas. Quando eu virei mãe, quando eu virei desempregada, quando eu virei gorda, quando eu voltei ao mercado de trabalho e diminuí drasticamente o tempo da minha filha comigo (e boa parte do cuidado dela passou para o pai).
Outra coisa que o feminismo fez por mim foi me tirar da bolha. Pasmem, mas eu achava (muito ingenuamente) que a maioria das mulheres já havia abraçado o feminismo e todas – imaginem – compreendiam que ele era a nossa luta comum. Tão ingênua, eu já fui, que nem sabia que muitas mulheres, como eu, nem tinham (e ainda não têm) o direito de se denominarem assim. Muitas não têm o direito de existir, quiçá serem profissionais, mães, cidadãs. Uma noite com a Ludymilla Santiago e uma tarde com a Daniela Andrade me ensinaram mais sobre feminismo do que todos os posts sobre o assunto no Facebook . Não fosse o feminismo eu não teria conhecido estas mulheres tão inspiradoras.
A minha própria identidade racial foi alterada pelo feminismo, porque percebi que mesmo me considerando negra deveria respeitar o fato de que a minha leitura como mulher branca no Brasil me concedia privilégios, independente da certeza de que fora do país eu seria considerada negra sem qualquer dúvida.
Por estas e outras, por mais que eu esteja longe da academia e mais distante da militância das ruas que gostaria, que me atrevo a refletir sobre o feminismo que busco para quem sabe, continuar – egoisticamente – sendo transformada por ele.
O feminismo que busco

É geral e irrestrito
Engloba todas as mulheres, sejam elas negras, cis, trans, acadêmicas, iniciantes, jovens, velhas, mães, hetero, lésbicas, celebridades, funkeiras, filósofas. Até mesmo os homens cisgêneros(*) têm espaço no meu feminismo, desde que eles compreendam seu papel no movimento de aliados e não questionem o protagonismo feminino.
(*) os homens trans (por não terem os mesmos privilégios dos homens cis)  têm um papel maior no meu feminismo sim, e homens cis terão que conviver com isso.

É crítico, mas não punitivo.
Ou seja, não impede que reflexões sejam feitas, que caminhos e aprofundamentos sejam apontados.  Ele, porém, não servirá para reduzir esforços, apontar erros sem indicar caminhos, e será paciente com quem precisa e deseja esclarecimento (e não controle).   

Respeita os recortes necessários e considera os privilégios de cada pessoa e grupo.
Todas as mulheres são em um grau ou outro, oprimidas pelo patriarcado. Porém, este grau tem que entrar na conta. É preciso reconhecer as diferenças para construir as pontes. Os privilégios sociais existem e o feminismo precisa reconhecê-los. Talvez a forma mais eficiente de fazer isso é ouvir. É se colocar no lugar do outro sem esquecer em que lugar você está. Parece a coisa mais fácil do mundo. Não é. É um esforço contínuo e não é porque você conseguiu uma vez que vai conseguir sempre. Não é porque você acha que conseguiu que isso se transformou em um fato. E a reciprocidade é necessária.

É objetivo, claro, democrático, e nem por isso raso.
Não sou acadêmica nem estudiosa do assunto. Nem por isso vou desconsiderar o que já li, o que já aprendi e o que ainda tenho a aprender. Meu feminismo quer atingir a todas as pessoas que dele necessitem, quer ajudar as pessoas como já fui ajudada. Não é preciso ser superficial para ser abrangente.

É baseado no respeito.
Porque só através do respeito a cada especificidade é possível chegar às pautas comuns e ao trabalho em conjunto. Eu que, com todos os meus privilégios (sociais, econômicos, cis, hétero), sinto diariamente o peso da opressão contra as mulheres, tenho certeza que a única forma de diminuí-la é unindo forças. Isso só será possível quando pararmos de olhar apenas para as nossas diferenças, quando pararmos de confiar apenas em quem pensa, vive e age como a gente. Apenas quando mulheres de todas as etnias, cis e trans, seguidoras do pensamento a ou b, trabalharem em conjunto.  

É uma metamorfose ambulante
 Meu feminismo é vivo e por isso está em constante transformação. Ele quer crescer, se desenvolver e para isso vai beber de todas as fontes que achar plausível.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Sobre "amor"



Aviso: contém alguns spoilers

Com um ano de atraso, assisti ao filme “Amor” de Michael Haneke  (A Professora de piano, Caché, A fita branca) que levou o Oscar de filme estrangeiro em 2013. É uma película acima de tudo honesta.  Emmanuelle Riva, atriz que interpreta a protagonista, está impecável e o texto é absolutamente correto. Em algumas cenas vi e ouvi minha tia na fase final de sua vida.

Depois do impacto, fui reler alguns artigos sobre o filme e vi que rolou certa polêmica se aquilo era “amor” ou não. Um bom exemplo é o texto do blog Já Matei por Menos “Amour não é sobre amor” . O ponto da autora é bem interessante, mas eu não diria que Amour não é sobre amor. É sobre amor, também. Porque amor é um sentimento humano e como tal não é uma coisa perfeita. Amor convive com raiva, com frustração, com dor, com desespero. E é sobre isso o filme: como o amor convive com o fim da vida.

Entre as inúmeras coisas que eu aprendi com a maternidade está essa: muitas vezes amar não basta. Porque a gente pode amar muito, profundamente, mas temos outros sentimentos. E esses sentimentos, egoísmo, cansaço, raiva, pena de si mesmo,  até preguiça, de vez em quando sufocam o amor e vencem. Por isso amar, para mim, envolve muito controle e esforço. Amar envolve não permitir que outros sentimentos passem na frente e façam a gente cometer uma injustiça.

Uma injustiça do tipo... sufocar sua companheira acamada e indefesa com um travesseiro e matá-la. Pois é, porque não dá pra dizer que quando o marido mata a esposa no filme, por mais que ela demonstrasse frustração com a situação em que se encontrava, tenha sido um ato de amor (e isso não significa que ele não a amasse), foi na verdade um ato de egoísmo, um ato de desespero, um ato de cansaço (e quantas vezes a gente não faz isso em escala menor, vocês já pensaram nisso? Cada palmadinha, cada castigo injustificado, cada vingancinha praticada contra quem amamos).

E aí vem outro ponto interessante do filme que é como a sociedade ocidental encara a questão do cuidado e da ‘dignidade’. Durante todo o filme o marido, estoicamente, faz questão de manter a mulher em sua casa, o que é um conforto, e de cuidar dela todo o tempo. Ele carrega, ele lava o cabelo, ele compra cadeira de rodas com motorzinho, ele faz comida, ele troca a fralda. Os vizinhos ficam emocionados ao ver tanta dedicação. Só que no final, quando já está exausto, ele também bate e mata. Além disso, creio eu por remorso, por saber o tamanho da bobagem que fez, suicida-se em seguida. Vale a pena?

A própria mulher, no início do processo da doença diz: não me leve mais ao hospital. Aí eu me pergunto, sabia ela, naquele momento, o que aconteceria? Porque ela poderia emendar a frase: ‘mas, por favor, também não me mate, ok? Antes disso, talvez seja mais prudente me levar para uma casa de repouso’.

Em nome de uma pretensa dignidade, ou de um sentimento de obrigação com a companheira, o marido prefere acabar com duas vidas. Não seria mais interessante pedir ajuda? Aceitar suas limitações, inclusive para continuar amando aquela pessoa e respeitando a dignidade dela?

Dentro da minha perspectiva ética, a morte deve ser um processo natural. E deve ser sustentada pelos familiares e pessoas que amam a pessoa que está no fim da vida (a não ser que essa pessoa esteja consciente e prefira dar cabo à vida, mas não é o caso do filme). Quando a minha tia morreu tive que brigar (muito) com médicos e profissionais de um hospital para que eles a encaminhassem para um CTI. Ouvi que a medicina podia fazer muito pouco e que ela morreria em breve. Eu disse: danem-se vocês, nós vamos fazer o máximo possível. Não me arrependi. Ela sobreviveu mais quatro dias, mas sabendo (ou não, não sei, ela estava inconsciente) que estávamos lutando por ela.

Por outro lado, nós usamos sim, uma casa de repouso. E sabíamos que não era o que ela queria. Procuramos o melhor lugar, acompanhamos cada tratamento, mesmo sabendo que no fundo, ela poderia estar magoada. E a visitamos todas as semanas sem falhar nunca: eu, minha mãe, meu companheiro e minha filha de dois anos na época. Não me arrependi. Pois nós estávamos fazendo o máximo possível. 

Acho que a sociedade tem que repensar essa relação com o cuidado. E olhar com menos preconceito as suas possibilidades. Porque o amor, para existir, também precisa de condições mínimas. Se a realidade retira essas condições, e a gente não faz nada para mudar, inclusive assumindo que somos seres limitados, e que existe raiva, cansaço, egoísmo, não tem sentimento nobre que dê jeito. E aí quem vence é a morte mesmo, inclusive do amor.        

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Porque a Cadernos Jandaia acertou - imagem e ativismo virtual

As transformações costumam ser lentas, se misturam à correria do dia-a-dia e muitas vezes passam despercebidas. Certos acontecimentos, entretanto, nos despertam. Tomamos consciência de que sim, alguma coisa mudou.
A repercussão do caso dos cadernos Jandaia é um bom exemplo. Para entender o ocorrido, basta ler a matéria do portal da Exame. Em resumo, a empresa lançou uma coleção de capas de cadernos com o objetivo de atingir o público jovem e escorregou feio no sexismo e na apologia à violência contra a mulher. Isso não chega a ser surpreendente, tendo em vista que, infelizmente, vivemos em uma sociedade altamente machista e desrespeitosa no que se refere à autonomia da mulher com relação ao seu próprio corpo e desejo. Não faltam exemplos desse desrespeito na mídia, na publicidade, em diversos produtos culturais.
Esse caso, entretanto, chama atenção por dois aspectos. O primeiro foi a ação rápida e conjunta de diversos coletivos feministas. Assim que as imagens das capas e adesivos dos cadernos foram divulgadas, o que era descontentamento tornou-se uma ação viral. Logo, além de imagens criticando os Cadernos Jandaia sendo replicadas no Facebook, a página da empresa na mesma rede social foi inundada de comentários negativos, solicitações de retratação e retirada dos produtos do mercado. Como muitas vezes as redes sociais pautam a imprensa, no mesmo dia, grandes portais já noticiavam e pediam a análise de especialistas. A secretária-geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, Marta Vanelli, declarou para o portal UOL "As capas são de extremo mau gosto e transmitem uma imagem muito pejorativa das mulheres".


Com todo esse barulho a empresa não tardou a se pronunciar e aí está o segundo aspecto interessante da polêmica. Além da retratação pública, a Cadernos Jandaia se comprometeu a retirar os produtos do mercado, solicitou sugestões de capas e iniciou no mesmo dia algumas postagens educativas sobre discriminação de gênero.
Com essas ações, a empresa demonstrou em primeiro lugar que não pretendia dormir no ponto. Muitas vezes, uma organização está presente nas redes sociais, mas não necessariamente preparada para lidar com as crises que essa presença pode acarretar. Agindo rápido, a Cadernos Jandaia mostrou o dinamismo necessário para atuar num mercado cada dia mais permeado pela interatividade das mídias digitais. Da mesma forma, a Cadernos Jandaia aceitou e assumiu que o mundo não é estático, que os conflitos políticos interferem diretamente no mundo dos negócios e que jogar o problema para debaixo do tapete pode ser bastante prejudicial para a relevância de uma marca. Como recompensa, recebeu o apoio dos críticos que divulgaram notas elogiando a ação correta e célere da empresa. 


Sendo assim, ficam as lições para todos nós:
- O mundo mudou sim, não há mais espaço para o preconceito, para o desrespeito aos direitos individuais e para o incentivo à violência. Na hora de lançar um produto, as organizações devem estar cientes disso.
- O ativismo virtual (também conhecido como ativismo de sofá) não é uma brincadeira, está organizado e começa a angariar vitórias cada dia mais significativas.
- O mundo dos negócios não vive em um universo paralelo, imune aos progressos sociais. Estar no mercado hoje também envolve ter senso ético, ouvidos e olhos abertos para receber as demandas dos consumidores e uma comunicação dinâmica pronta para atuar na hora certa, ou seja, em tempo real.
 

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Poemas perhaps

Certo tempo atrás mostrei um texto para duas pessoas e a reação foi a mesma: ué, você escreve poesia? Respondi que não, que não se tratava de poesia. Um texto literário ainda vai, mas poesia?

O escrito era esse:

Locomotiva

Tenho fogo dentro de mim.
Arde, alastra, arrefece, esquenta outra vez.
Às vezes cresce até a pele e chega a iluminar.
Mas dói. E machuca quem toca.
Não tem rosto nem nome esse fogo.
Eu não rezo para ele.
Não apaga nunca. Mesmo que eu queira.
- Vai embora, diabo, me deixa!
Não mata. Mesmo que eu peça.
- Termina logo com isso, trem.
Não é bom. Mas é necessário.
Ele me ajuda a levantar e a querer.
A continuar seguindo, trilhando e gritando.
Como uma locomotiva.


Pensei e não me convenci por completo. Poesia para mim quem faz é o Bandeira, o Drummond:

Acordar, viver
Como acordar sem sofrimento?
Recomeçar sem horror?
O sono transportou-me
àquele reino onde não existe vida
e eu quedo inerte sem paixão.

Como repetir, dia seguinte após dia seguinte,
a fábula inconclusa,
suportar a semelhança das coisas ásperas
de amanhã com as coisas ásperas de hoje?

Como proteger-me das feridas
que rasga em mim o acontecimento,
qualquer acontecimento
que lembra a Terra e sua púrpura
demente?
E mais aquela ferida que me inflijo
a cada hora, algoz
do inocente que não sou?

Ninguém responde, a vida é pétrea.


Carlos Drummond de Andrade

Isso sim é poesia.

Então, diante da minha dúvida chamarei meus rascunhos de poemas perhaps. Serve para nada, mas liberta. O suficiente para mim.

O Tempo

Quando durmo, desliza
Quando corro, multiplica
Quando deito, escapa
Quando preciso, é inexorável
Quando me escondo, alerta
Quando desejo, choro, ranjo os dentes, ignora
Quando fecho os olhos e respiro, rende-se
E eu venço.


Entendimento

Meu filho não me perpetua
Um gêmeo não é igual ao outro
O humor não é definido pelos percursos estelares
A riqueza do livro não está nas palavras, mas no olhar – de quem lê
Existe uma diferença de essência entre o antídoto e o veneno que vai além da dose.


Ficha de inscrição

Nome: Ludmila
Status: trocando de pele
Aspiração: leveza
Inspiração: letras, imagens e cores (em tons pastéis)
Habilidades: Desejar, sentir, imaginar e construir (junto)
Ambição: felicidade para todos habitantes do planeta (sem exceção)


  

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Pequenos leitores

Todos os dias temos motivos para diminuir nossa fé na humanidade. As notícias ruins chegam de todos os lados. Por isso resolvi escrever sobre um fenômeno que, ao contrário, só traz esperança. O surgimento de uma geração de pequenos e bons leitores.

A leitura na educação infantil está em alta. Existe um incentivo constante para que crianças, na faixa etária de zero a seis anos, tenham acesso a livros e ao mundo da literatura através de títulos atrativos, contação de histórias e espaços dedicados. Percebo essa tendência de maneira bem clara no meu entorno e, acredito, ela é bastante abrangente.

Qualquer livraria que se preze tem uma área reservada às crianças. E nem poderia ser diferente, já que em 2012, segundo a Associação Nacional de Livrarias (ANL) a literatura infantil só perdeu, em volume de vendas, para os livros religiosos. E esse protagonismo vem se consolidando, de acordo com a mesma pesquisa, desde 2009.

As escolas infantis também ajudam, pois investem em projetos específicos sobre obras infantis, enviam exemplares todos os finais de semana – com o intuito de garantir a leitura em família – e encenam peças de teatro baseadas nos livros lidos em sala de aula.

Soma-se a isso, a insubstituível leitura ao pé da cama. Hábito de vários pais e mães que, como eu, acreditam que ler um livro para o filho, ou filha, antes de dormir, traz benefícios dos mais variados. Além de oferecer o prazer da leitura e o universo lúdico das estórias infantis, ler para uma criança fortalece os laços afetivos, cria um momento de intimidade e relaxa tanto o ouvinte como o cuidador que está lendo. 

Com a popularização do livro infantil, surge uma ótima opção de presente. Sim, titios, madrinhas, vovós, são, da mesma forma, fundamentais na formação dos pequenos leitores. E aí vai uma dica importante: antes de presentear com um livro, principalmente se for destinado a uma criança, leia-o antes de comprar!

Explico-me. O crescimento da demanda fez surgir uma enormidade de títulos e, verdade seja dita, nem todos são bons ou se encaixam no perfil de determinadas famílias. Eu mesma já comprei gato por lebre e joguei no lixo uma linda coletânea de contos infantis, ricamente ilustrada, com histórias sem pé nem cabeça.

Os valores devem, igualmente, ser levados em consideração na hora de decidir por um título ou outro. Cuidado com as gafes culturais. Alguns duvidam, mas existem pessoas que não são cristãs (portanto, se faltar intimidade ou conhecimento, não presenteie com a bíblia para crianças). Há, por exemplo, aqueles que prezam por uma educação menos sexista (como essa mãe que vos escreve) e aí todo cuidado é pouco com os manuais de etiqueta, corte, costura e similares para meninas que ainda não saíram das fraldas. O inverso também vale. Evite impor um pensamento ou valor que não faça parte da realidade daquele grupo familiar. Qualquer obra que fuja radicalmente da linha de pensamento dos pais vai acabar empoeirado no fundo da estante.

Como sugestão, alguns livros que considero boas compras e não são badalados. Os que se seguem foram testados e aprovados por uma leitora exigente, minha filha de três anos. A maioria reúne qualidade e bom preço. Outra dica antes de comprar um livro infantil: compare os preços e não descarte nunca os sebos. Boas histórias não envelhecem.

O que fazem os peixes? – Baby Einstein
Um dos primeiros livros da Teresa. Praticamente sem história, ideal para os novinhos de até 18 meses. Eles adoram as luzes e sons. Os pais podem acompanhar o desenvolvimento do bebê de acordo com as respostas dadas às perguntas do livro.


Contos dos Sonhos – Ed. Fapi
Despretensioso, histórias curtas, bem lúdicas e relaxantes. Funciona muito bem até os dois anos.


 Lindara – Sonia Rosa – Ed. Nandyala
Ótimo texto, trabalha bem a superação de obstáculos na infância. A protagonista negra foge do padrão, branca, loira, olho azul que, infelizmente, povoa a literatura infantil.



Chapeuzinho Amarelo – Chico Buarque – Ed. José Olympio
Clássica história sobre superação do medo. O livro faz parte da Coleção Itaú de livros infantis, distribuída anualmente pela Fundação Itaú Social. Aliás, uma iniciativa de tirar o chapéu. Se você não conhece, confira.



Quando eu crescer – Anne Faundez – Ciranda Cultural
Mais uma protagonista negra e fantástica. Estimula a autonomia e a liberdade das crianças.


A curiosidade Premiada – Fernanda Lopes de Almeida/Alcy Linares – Ed. Ática
Esse livro já é voltado para crianças um pouco mais velhas, a partir de três anos. Mas é uma brincadeira deliciosa com a famosa fase dos porquês.



O ratinho, o morango vermelho maduro e o grande urso esfomeado – Don e Audrey Wood – Brinque-Book
Mais um livro que chegou via Coleção Itaú de livros infantis e conquistou nossa leitora. Sutil, bem elaborado, é uma ótima pedida para apresentar aos pequenos a ironia e um humor mais refinado.


sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Mercado pequeno?

Uma frase chamou a minha atenção em uma notícia sobre a possível parceria entre a Saraiva e a Barnes & Noble para venda do Nook. O autor se perguntava por que, em um mercado tão tímido, de livros digitais no Brasil, já havia tantas empresas, tantos players se movimentando. Realmente, são muitos. Apple, Google,  Amazon, Kobo, B&N, Saraiva, Cultura são algumas organizações que já se movimentam nesse tabuleiro.

A resposta me parece meio óbvia. Esse mercado é pequeno agora, mas vai ficar imenso. Tem potencial para mais que dobrar a venda de títulos no Brasil.

Por quê? Alguns motivos:

Preço - não tem jeito, o preço das obras vai cair em formato eletrônico. Isso afeta quem sempre leu, e vai poder ler ainda mais, e quem lia pouco por falta de orçamento. 

Comodidade - o suporte eletrônico viabiliza a leitura múltipla, em qualquer lugar, de qualquer livro. Hoje é possível andar com cinco, 10 livros na bolsa carregando o mesmo peso. Os famosos calhamaços* agora serão lidos em qualquer lugar, já que ninguém, em sã consciência, saía de casa com um livro de mais de 1500 páginas para ler no ônibus. No universo do livro técnico, por exemplo, isso acarreta muito mais facilidade para o leitor.

Produções independentes - estas se multiplicarão. Editoras e livrarias de nicho, iniciativas pessoais, algumas até informais, terão muito mais chance de surgir e obter sucesso. Mais opções, mais clientes, mais vendas.

Novos formatos, novas ideias - o e-book amplia o conceito que temos sobre o que é um livro. Projetos editoriais eletrônicos, multimídia, interatividade, atualização (muitas vezes em tempo real), já estão aí e contarão sua própria história.

Claro que existem os desafios. A popularização dos e-readers e tablets, as novas relações entre editoras, autores, livrarias e distribuidoras, a pirataria (tema que vale um post próprio). Mas a onda já está chegando, as notícias são animadoras (link).

Pequena é a ponta do Iceberg. 

* Segundo o Houaiss, calhamaço é livro ou caderno com grande número de páginas.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Livros, mercado editorial e... Paulo Coelho?!

Pois é. Coisas interessantes podem sair dos lugares mais inusitados.

Na verdade não irei aqui resenhar um livro de Paulo Coelho (link) e sim a biografia O Mago (Planeta/2008), escrita pelo Fernando Morais. Como não se trata de um lançamento,comprei meu exemplar, bem baratinho, uns quatro meses atrás. Não nego, inclusive, que adquiri muito mais pela sempre agradável leitura de Fernando Morais do que pelo biografado.

Mesmo assim, a leitura me fez rever alguns conceitos. Um deles é que o Paulo Coelho não tem o que falar. Antes da biografia, acreditava na teoria de muitos críticos literários que o conteúdo das obras de Coelho é pura presepada, papo furado embalado em esoterismo de padaria. Não é bem assim. A história de sua vida confirma que o escritor, um dos mais lidos no mundo, acredita no que diz.

Daí o leitor também acreditar é outra história. Particularmente, li três livros do Paulo Coelho e achei um pior que o outro. Justamente porque essa história de o universo conspira a seu favor, lenda pessoal não é exatamente a minha praia. Isso não significa que não faça sentido para outras (muitas) pessoas.

Em tempos de Crepúsculo e 50 tons de cinza, Paulo Coelho me parece o percursor de uma clara tendência de valorização pelos leitores de histórias tocantes e fáceis de ler. Ou seja, o estilo perdeu espaço para a fluência narrativa, pelo menos quando falamos de livros com vocação para grandes tiragens.

A biografia, entretanto, me ganhou, de fato, por contar a história de um escritor. Primeiro pelo desejo obsessivo de Paulo Coelho. Quem conhece a trajetória de teatrólogo, satanista, compositor, executivo da indústria fonográfica, talvez não imagine que o grande desejo de Coelho, desde criança, fosse se tornar um grande escritor, lido em todo o mundo. E olha, convenhamos, ele teve vários bons motivos, em várias oportunidades, para desistir dessa ideia. Mas não desistiu. Ponto para ele.

Um segundo ponto que me agradou foi conhecer as estratégias usadas para alcançar o sucesso no início da carreira como escritor. Várias mal sucedidas inclusive. Até uma Editora, com certo sucesso como negócio, Paulo Coelho empreendeu. Sabiam? E os "mega sucessos" anteriores a O Diário de um Mago? Conhecem as obras Teatro na Educação (1973) Arquivos do Inferno (1982) e Manual Prático do Vampirismo (1985)? Pois é, eu também não.  

Depois de contar todas as peripécias e tentativas do escritor para, finalmente, entrar na lista de best-sellers, o livro também descreve as ações que o fizeram alçar outro patamar. De escritor bastante lido para um verdadeiro fenômeno de vendas não só no Brasil, mas no mundo todo. Claro que nem tudo deu certo, como nem tudo foi estrategicamente arquitetado. Momentos de sorte, azar, erros e acertos aconteceram. Mas está tudo lá, cada detalhe, cada briga com os críticos, casa jogada mercadológica.

Por isso gostei muito da leitura, e recomendo, principalmente, para quem, como eu, tem interesse no mercado editorial. Impossível passar ileso pela história do escritor vivo mais traduzido em todo o mundo. Independente da decisão de ler os seus livros ou não.